O arcebispo metropolitano da arquidiocese de Pouso Alegre, dom José Luiz Majella Delgado-C.Ss.R, emitiu na manhã desta sexta-feira (19) uma mensagem aos fiéis da arquidiocese de Pouso Alegre por ocasião da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, do Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero e pela situação vivida por conta da pandemia. A mensagem também é assinada pelo coordenador do Conselho de Presbíteros, padre Heraldo José dos Reis, e pelo coordenador de pastoral, padre Edson Aparecido da Silva.
A mensagem se inicia com a certeza de que “somos muitos, formamos um só corpo, e se um sofre, todos os outros participam deste sofrimento”. Por isso, está sendo difícil enfrentar toda essa realidade que se vive por causa da pandemia da COVID-19. Clero, religiosos e fiéis leigos estão sofrendo.
“Que sacrifício para a Mãe Igreja, para seus pastores e seu povo, privarem-se daquilo que lhes é mais caro: suas atividades evangelizadoras e suas celebrações comunitárias, particularmente a Eucaristia! Se não compreendemos que o amor é a maior lição eucarística (cf. 1Cor 11,17-34), o dom mais elevado (cf. 1Cor 13,1-13) e a plenitude da lei (cf. Rm 13,10), caímos na tentação de achar que o rebanho do Senhor foi abandonado”.
O cuidado tomado é de pastor, e exige de todos maturidade humana e espiritual para compreender, ou ao menos aceitar, que não se trata de algo simples.
“Como é bom saber que, ao longo desses últimos meses, nosso sacrifício contribuiu para preservar a vida de muitos irmãos e irmãs, especialmente os de grupos de risco, tais como idosos e doentes. Jesus, compadecido das multidões cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36), apresentou-se como o Bom Pastor (cf. Jo 10,1-18). Quando a noite chega, o Bom Pastor também sabe fechar a porta do redil para proteger suas ovelhas dos lobos, dos mercenários e dos perigos invisíveis. À medida que o dia vai clareando, é possível abrir, chamá-las e conduzi-las novamente às pastagens e às fontes, sem perder a vigilância pelo rebanho, até mesmo por uma única ovelha (cf. Lc 15,4-7)”.
Ainda não há uma data definida ou um prazo para o retorno das celebrações comunitárias, mas, segundo a mensagem, já é possível vislumbrar uma possibilidade, o que não exclui precaução e cuidado, respeitando as normas sanitárias.
“Para que haja tempo de elaborar as orientações, organizar e adequar nossas comunidades e igrejas à nova realidade, esperamos retomar algumas atividades religiosas até agosto, desde que seja possível, respeitando as recomendações das autoridades sanitárias, especialmente as de cada município”.
O arcebispo também revelou que uma comissão gestora foi montada, formada por padres e profissionais da saúde, para dar suporte, baseada em critérios técnicos, às nossas futuras orientações eclesiais.
“Essa Comissão, junto com o Conselho Presbiteral, nos ajudará a discernir o melhor momento e os procedimentos sanitários para a retomada de algumas atividades, celebrações e outros momentos de “suspensão”, caso a situação exija. Não podemos perder de vista o cuidado com a vida do povo de Deus, exigência explícita e clara da ética cristã. A pandemia da COVID-19 é uma questão de saúde pública e, como tal, precisa ser enfrentada, de acordo com as diferentes realidades de cada tempo e lugar”.
A mensagem é finalizada com um pedido: “Estejamos abertos aos sinais dos tempos, aos apelos do Espírito Santo que conduz a Igreja para a vivência da fé cristã em situações totalmente novas. Num mundo dividido, daremos testemunho de comunhão eclesial, de diálogo, de respeito, de amor e de cuidado com próximo. Saibamos caminhar juntos, na sinodalidade eclesial, sendo capazes de esperar uns pelos outros (cf. 1Cor 11,33) para celebrar dignamente, no amor fraterno, a Santíssima Eucaristia”.
Leia a mensagem na íntegra:
MENSAGEM AO POVO DE DEUS DA ARQUIDIOCESE DE POUSO ALEGRE
Por ocasião da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, do Dia de Oração pela Santificação do Clero, em comunhão com toda a Igreja, em tempos de pandemia.
Estimados irmãos e irmãs!
Que a paz do Senhor esteja sempre convosco!
Somos muitos, mas formamos um só corpo. Se um membro sofre, todos os outros participam de seu sofrimento; se um membro é honrado, todos participam da sua alegria (cf. 1Cor 12).
Nos últimos meses, as tristezas e as angústias da humanidade diante da pandemia da COVID-19 se tornaram também nossas, como discípulos de Cristo. Experimentamos, na própria pele, o que falta completar ao mistério de sua paixão, por meio da Igreja que é seu corpo (cf. Cl 1,24). Que sacrifício para a Mãe Igreja, para seus pastores e seu povo, privarem-se daquilo que lhes é mais caro: suas atividades evangelizadoras e suas celebrações comunitárias, particularmente a Eucaristia! Se não compreendemos que o amor é a maior lição eucarística (cf. 1Cor 11,17-34), o dom mais elevado (cf. 1Cor 13,1-13) e a plenitude da lei (cf. Rm 13,10), caímos na tentação de achar que o rebanho do Senhor foi abandonado.
Impossibilitados de celebrar comunitariamente, não por desejo nosso, mas pela grave situação da pandemia, buscamos no mandamento do amor a Deus e ao próximo (cf. Mt 22,34-40) a referência para nossas ações como discípulos do Senhor (cf. Jo 13,35). Assim, oferecemos nosso culto espiritual, tornando-nos hóstias vivas (cf. Rm 12,1), sacrificando-nos uns pelos outros. Fora do amor, que é o próprio Deus (cf. 1Jo 4,8), é impossível compreender o que vivemos como Igreja. As portas dos templos se fecharam para as celebrações presenciais, mas a Igreja continua viva em seus filhos e filhas, perseverando na fé por meio de orações nas famílias nutridas pela Palavra de Deus, no uso dos meios de comunicação e das redes sociais para evangelização, nos inúmeros gestos de solidariedade, de espiritualidade e de ações não divulgadas de tantos cristãos leigos e leigas, consagrados e ministros ordenados.
Como é bom saber que, ao longo desses últimos meses, nosso sacrifício contribuiu para preservar a vida de muitos irmãos e irmãs, especialmente os de grupos de risco, tais como idosos e doentes. Jesus, compadecido das multidões cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36), apresentou-se como o Bom Pastor (cf. Jo 10,1-18). Quando a noite chega, o Bom Pastor também sabe fechar a porta do redil para proteger suas ovelhas dos lobos, dos mercenários e dos perigos invisíveis. À medida que o dia vai clareando, é possível abrir, chamá-las e conduzi-las novamente às pastagens e às fontes, sem perder a vigilância pelo rebanho, até mesmo por uma única ovelha (cf. Lc 15,4-7).
A situação de nossos dias exige de todos nós maturidade humana e espiritual para compreender, ou ao menos aceitar, que não se trata de algo simples. Como lembra diversas vezes São Paulo, escrevendo aos coríntios, precisaremos ser adultos na fé para enfrentar os muitos desafios eclesiais, inclusive celebrativos, que não se resolverão com nossas simples opiniões pessoais ou de grupos, impaciência e falta de caridade fraterna, mas com discernimento do Corpo de Cristo, buscando a comunhão, a edificação da Igreja, “a fim de que não haja divisão no corpo, mas os membros tenham igual solicitude uns com os outros” (1Cor 12,25).
Com zelo pastoral, em comunhão com o Papa Francisco, com o clero e lideranças cristãs, conduzimos nossas comunidades até aqui e, aos poucos, avaliando as condições, retomaremos nossas atividades na Arquidiocese, no tempo e no modo que forem possíveis, com muita cautela, cuidando do rebanho que nos foi confiado (cf. 1Pd 5,2).
Além do nosso Decreto de 18 de março de 2020, ainda vigente até darmos outras providências, no dia 9 de junho de 2020, fizemos uma reunião com o Conselho Presbiteral, que nos colocou a par da situação da igreja arquidiocesana e dos desafios do crescimento da pandemia nas cidades das nossas paróquias, tendo consultado o clero e os profissionais de saúde dos municípios. Apesar da ansiedade e preocupações que atingem nossos corações, agiremos na fé e na esperança, sem pressa, como requer a situação, amadurecendo e encontrando caminhos.
Em espírito de comunhão, consideramos o seguinte:
1- Criamos uma “Comissão Gestora para Tempos de Pandemia”, formada por padres e profissionais da saúde, para dar suporte, baseada em critérios técnicos, às nossas futuras orientações eclesiais. Essa Comissão, junto com o Conselho Presbiteral, nos ajudará a discernir o melhor momento e os procedimentos sanitários para a retomada de algumas atividades, celebrações e outros momentos de “suspensão”, caso a situação exija. Não podemos perder de vista o cuidado com a vida do povo de Deus, exigência explícita e clara da ética cristã. A pandemia da COVID-19 é uma questão de saúde pública e, como tal, precisa ser enfrentada, de acordo com as diferentes realidades de cada tempo e lugar.
2- Quando voltar? Para que haja tempo de elaborar as orientações, organizar e adequar nossas comunidades e igrejas à nova realidade, esperamos retomar algumas atividades religiosas até agosto, desde que seja possível, respeitando as recomendações das autoridades sanitárias, especialmente as de cada município.
3- O que e como voltar? Orientaremos, em tempo oportuno, quais atividades eclesiais serão retomadas e os cuidados necessários para isso, considerando as sugestões da CNBB e a realidade da Arquidiocese de Pouso Alegre.
4- O que se espera de cada um e de todos? “Renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade, revesti-vos do homem novo” (Ef 4,23). Não se põe remendo novo em roupa velha; vinho novo exige odres novos (cf. Mc 2,18-22). Muitos odres terão de ser deixados. Sem murmurações, próprias dos momentos de deserto e Êxodo, prossigamos no Caminho (cf. Jo 14,6), sem olhar para trás, com os olhos fixos em Jesus para não nos deixarmos abater pelo desânimo (cf. Hb 12,1-3)!
Estejamos abertos aos sinais dos tempos, aos apelos do Espírito Santo que conduz a Igreja para a vivência da fé cristã em situações totalmente novas. Num mundo dividido, daremos testemunho de comunhão eclesial, de diálogo, de respeito, de amor e de cuidado com próximo. Saibamos caminhar juntos, na sinodalidade eclesial, sendo capazes de esperar uns pelos outros (cf. 1Cor 11,33) para celebrar dignamente, no amor fraterno, a Santíssima Eucaristia.
Inspirados no Coração Misericordioso de Jesus, saibamos servir por amor (cf. Gl 5,13), rezemos uns pelos outros e pela santificação do clero!
Senhora Aparecida, Mãe de Deus e Nossa, amparai-nos e protegei-nos!
São Sebastião, Padroeiro de nossa Arquidiocese, rogai por nós!