“‘O povo de Deus não gosta desta polarização. O povo de Deus é o santo povo fiel de Deus: esta é a Igreja’. Diante de tantas divisões atuais, o Papa Francisco conclama para uma Igreja comunhão, que foi a proposta dos padres conciliares.”
Na terça-feira, 11 de outubro de 2022, memória de São João XXIII, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro a Santa Missa pelo 60° aniversário do Concílio Vaticano II. Em sua homilia, entre outros, convidou a redescobrirmos o Concílio, “para devolver a primazia a Deus, ao essencial”, recordando que o pedido do Senhor a Pedro para apascentar as suas ovelhas, referia-se não só a algumas, mas a todas, “porque ama a todas; a todas designa, afetuosamente, como «minhas». O bom Pastor vê e quer o seu rebanho unido, sob a guia dos Pastores que lhe deu.”
Padre Gerson Schmidt*, que tem dedicado vários programas ao aniversário do Concílio, volta a aprofundar hoje a homilia do Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, com destaque ao aspecto da unidade:
“O Papa Francisco, em sua homilia por ocasião do 60 anos da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, na Basílica de S. Pedro, 11 de outubro passado, afirmou assim: “O Concílio indica à Igreja esta rota: como Pedro no Evangelho, fá-la voltar à Galileia, às fontes do primeiro amor, para redescobrir nas suas pobrezas a santidade de Deus (cf. Lumen gentium, 8c; cap. V), para reencontrar no olhar do Senhor crucificado e ressuscitado a alegria perdida, para se concentrar em Jesus. Quando já se aproximava o fim dos seus dias, o Papa João escrevia: «Esta minha vida, que caminha para o ocaso, não poderia ter melhor coroamento do que concentrar-me totalmente em Jesus, filho de Maria, (…) em grande e continuada intimidade com Jesus, contemplado na imagem: menino, crucificado, adorado no Sacramento» (Jornal da Alma, 977-978). Este é o nosso olhar alto, a nossa fonte sempre viva!”.
Nessa mensagem o Papa Francisco recorda aqui a LG número 08 que afirma assim: “Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica (12); depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cf. Mt 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento da verdade» (1Tim 3,5). Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele (13), embora, fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica. Mas, assim como Cristo realizou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo caminho para comunicar aos homens os frutos da salvação. Cristo Jesus «que era de condição divina… despojou-se de si próprio tomando a condição de escravo (Fil 2, 6-7) e por nós, «sendo rico, fez-se pobre» (2 Cor 8,9): assim também a Igreja, embora necessite dos meios humanos para o prosseguimento da sua missão, não foi constituída para alcançar a glória terrestre, mas para divulgar a humildade e abnegação, também com o seu exemplo. Cristo foi enviado pelo Pai « a evangelizar os pobres… a sarar os contritos de coração» (Luc. 4,18), «a procurar e salvar o que perecera» (Lc 19,10). De igual modo, a Igreja abraça com amor todos os afligidos pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas necessidades, e intenta servir neles a Cristo”.
O Papa Francisco também recordou nessa homilia a LG 04 e 13. Essas palavras do Papa parecem atuais em nosso contexto histórico em que vivemos frente a divisões e polarizações. Disse assim: “Quer – e é o terceiro olhar – o olhar do conjunto: todos, todos juntos. O Concílio recorda-nos que a Igreja, à imagem da Trindade, é comunhão (cf. Lumen gentium, 4.13). Em vez disso, o diabo quer semear a cizânia da divisão. Não cedamos às suas adulações, não cedamos à tentação da polarização. Quantas vezes, depois do Concílio, os cristãos se empenharam por escolher uma parte na Igreja, sem se dar conta de dilacerar o coração da sua Mãe! Quantas vezes se preferiu ser «adeptos do próprio grupo» em vez de servos de todos, ser progressistas e conservadores em vez de irmãos e irmãs, «de direita» ou «de esquerda» mais do que ser de Jesus; arvorar-se em «guardiões da verdade» ou em «solistas da novidade», em vez de se reconhecer como filhos humildes e agradecidos da santa Mãe Igreja. Todos, todos somos filhos de Deus, todos irmãos na Igreja, todos Igreja, todos. O Senhor não nos quer assim: somos as suas ovelhas, o seu rebanho, e só o seremos juntos, unidos. Superemos as polarizações e guardemos a comunhão, tornemo-nos cada vez mais «um só», como Jesus implorou antes de dar a vida por nós (cf. Jo 17, 21). Nisto, nos ajude Maria, Mãe da Igreja. Aumente em nós o anseio pela unidade, o desejo de nos empenharmos pela plena comunhão entre todos os crentes em Cristo. Deixemos de lado os «ismos»: o povo de Deus não gosta desta polarização. O povo de Deus é o santo povo fiel de Deus: esta é a Igreja”. Diante de tantas divisões atuais, o Papa Francisco conclama para uma Igreja comunhão, que foi a proposta dos padres conciliares.”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: vaticannews.va